HISTÓRIA
Durante cerca de mil e duzentos anos, desde o séc. VII até 1834, os monges beneditinos imperaram em Santo Thyrso. Está escrito (Benedicta Lusitana) que no ano de 770 da era de Cristo já aqui havia comunidade religiosa. O atual Mosteiro, que no decurso dos séculos passou por diversas restaurações que lhe foram apagando os traços da fábrica primitiva, é do ano de 978. Após a expulsão das ordens religiosas do país, em 1834, todos os seus bens passaram para o Estado. O Mosteiro de Santo Tirso foi comprado em asta pública por uma Senhora do Porto, que posteriormente o haveria de vender a um tirsense imigrante no Brasil, Manoel José Ribeiro (1807-1893), mais tarde conhecido por Conde de S. Bento.
Pequena resenha esta, para relacionar a história do Mosteiro, que é a história desta terra e por isso interessa ser conhecida, pois influenciou todo o seu percurso e, nomeadamente, o tardio nascimento da Misericórdia de Santo Tirso - 1885.
Em 1876 encontrando-se em Santo Tirso Monsenhor Luís Azevedo, diretor espiritual do Seminário do Porto, foi por este sugerido que se formasse uma comissão de senhoras para angariar fundos destinados à fundação de um hospital.
Esta comissão, presidida por D. Maria do Carmo Azevedo e sendo composta por mais sete senhoras, organizou um bazar com o produto do qual procederiam à abertura do referido serviço hospitalar.
As ofertas foram numerosas, ocorrendo a inauguração desse bazar em 24 de Junho do mesmo ano no Claustro do antigo Mosteiro, onde permaneceram expostos durante alguns dias os objetos para venda.
A iniciativa foi lucrativa, acumulando ainda diversos donativos - entre os quais se salientou a contribuição de Manoel José Ribeiro à época já Visconde de S. Bento -conseguindo-se assim uma receita total de 902$535 Rs.
Em 27 de Maio de 1877, na Rua Cirilo Machado, (atual Rua Prof. Dr. Joaquim Pires de Lima) foi possível abrir ao público a Casa de Saúde, tendo como administradora D. Maria do Carmo Azevedo, sendo instaladas algumas camas destinadas ao atendimento dos casos mais urgentes.
O movimento dos primeiros anos foi pequeno, mas importante. Este modesto estabelecimento apenas conseguiu corresponder aos anseios generalizados da população, o que levou a Diretora da Casa de Saúde a apelar ajuda material à população em geral e ao Visconde de S. Bento, durante a sessão solene na sua tomada de posse (1882) das propriedades do Mosteiro. O apelo foi correspondido com um donativo de 45$00 Rs, dádiva essa que permitiu manter durante mais algum tempo os serviços. No entanto, com o aumento das dificuldades e o alheamento dos tirsenses em geral, a Casa de Saúde acabou por cessar a sua atividade.
Entretanto, o Diretor do "Jornal de Santo Thyrso", José Bento Correia, exorta os tirsenses a fundar uma associação, legalmente constituída, para relançar a Casa de Saúde. Assim, em 3 de Julho de 1885, decidem recuperar o serviço de saúde, desta vez sob a forma de Irmandade, a que chamariam Santa Casa da Misericórdia de Santo Tirso.
Em 30 de Agosto de 1885 estava já completamente formada, sendo a primeira Mesa Administrativa composta, entre outros, pelos seguintes membros:
Provedor: Bernardino Alves Barbosa Santarém
Vice-Provedor: Dr. António Carneiro Pacheco
Secretário: José Maria de Sousa Azevedo
Vice-Secretário: Francisco José Telles da Cunha
Tesoureiro: Ricardo Pereira da Rocha
Em 1891, o Conde de S. Bento, grande benemérito da nossa terra, entregou à Instituição um edifício construído à sua custa, dotando o concelho de um prédio concebido para nele se cuidarem os doentes. Foi inaugurado em 28 de agosto de 1891, situando-se na antiga Praça Conde S. Bento, atual Parque D. Maria II. Segundo o “Jornal de Santo Thyrso” de 3 de setembro de 1891 o “novo hospital reúne todas as condições higiénicas, tem muita luz, é muito ventilado, e descobre-se dele magníficos panoramas. Ao entrar neste templo de caridade, sente-se alegria, aos lábios acodem espontaneamente palavras gratificas ao seu caritativo fundador, e parece não ser hospital, mas uma magnífica casa de saúde”. Apoiada em donativos deixados por Conde de S. Bento e por outras pessoas de fortuna, foi desenvolvendo a sua atividade em torno deste Hospital, até 1894, altura em que o sobrinho e único herdeiro do Conde, José Luiz d’Andrade, cedeu em testamento grande parte da sua fortuna a esta Santa casa, constituindo um grande impulso ao seu crescimento. Em 1894, por escritura celebrada entre o ilustre Benemérito - o Excelentíssimo José Luiz d`Andrade - e a Misericórdia, esta ficou com o usufruto das Quintas de Fora e de Dentro do antigo Mosteiro (hoje propriedade da Misericórdia e onde está instalada a Escola Profissional Agrícola Conde de S. Bento) com a obrigação de "fundar um Asylo Agrícola”.
Assim, o Mosteiro de Santo Tirso e as quintas que o cercavam foram divididas por três entidades: a Igreja Matriz para a Fábrica da Igreja; o primeiro piso do alçado avançado do Mosteiro para a Câmara Municipal de Santo Tirso, que nele funcionou até finais de 1960; o restante edificado, incluindo a Quinta de Fora e a Quinta de Dentro, num total de 26 hectares na margem esquerda do Rio Ave, para a Irmandade e Santa Casa da Misericórdia de Santo Tirso. Em tal complexo foi então dado seguimento ao exemplo dos monges, acolhendo a Misericórdia órfãos e desavindos, velhos e doentes, para além de dar guarida a forasteiros, conforme vontade expressa do Conde antes da sua morte.
Foi então que em 1 de janeiro de 1897 é inaugurado o Asilo Agrícola Conde S. Bento nas Quintas do Mosteiro, e aí se mantém em funcionamento até 1913, altura em que a Misericórdia cede o usufruto das Quintas do Asilo Agrícola ao governo para nela se instalar uma Escola Agrícola no norte do país.
É nesse mesmo ano, em 1913, que surge a ideia ousada de criação de um novo hospital. Em 14 de julho de 1914, o Provedor Domingos Wenceslau Moreira da Silva apresenta, em reunião da Mesa Administrativa, a “planta, mapas, orçamentos e relatórios, elaborados pela comissão mandatada para o efeito”. A inauguração do novo hospital efetuou-se a 26 outubro de 1919 iniciando uma longa jornada até abril de 1976, altura em que foi nacionalizado. Na altura foi considerado um hospital de excelente qualidade, merecendo elogios de entidades oficiais do setor. Deve destacar-se a circunstância de ambos os hospitais terem sido fruto da generosidade dos nossos conterrâneos emigrados no Brasil. O primeiro, totalmente custeado pelo grande benemérito Conde de S. Bento e o segundo prodigamente apoiado pela colónia portuguesa emigrada no país irmão.
Brasão
Composto por dois escudos ovados com bordadura de ouro rodeada de negro dispostos em V, ornados exteriormente de dois ramos de louro e carvalho, cujas hastes se cruzam na parte inferior e encimadas por coroa mariana de ouro.
No escudo da direita, em campo branco, a figura de N. Senhora da Misericórdia, resplandecente de ouro, vestido de safira e manto de rubi; e no escudo da esquerda, abarcando todo o campo, o símbolo das armas nacionais, em cores.
Por baixo do conjunto, em listel branco com cercadura negra, com letras maiúsculas, igualmente a negro, a inscrição MISERICÓRDIA DE STO. THYRSO.